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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sueto e Eu

Vamos retomar algumas coisas.
Como procurei esclarecer em alguns momentos, eu assumo o papel de uma espécie de escritor mediúnico dos pensamentos da minha gata Sueto.
Cumpre-me, apenas, procurar traduzir numa linguagem acessível aos humanos, suas idéias e seus sentimentos. Isto nem sempre, no entanto, é feito de forma satisfatória.
As idéias políticas de Sueto, por exemplo, nem sempre ficam muito claras.
Há momentos em que se mostra muito conservadora, burguesa, quase reacionária. Noutros, no entanto, lembra uma revolucionária.
Seu temperamento, também, apresenta alterações que tenho dificuldade de entender.
No geral, porém, Sueto é muito sensível e inteligente e mantemos longos papos sobre música erudita, poesia e filosofia.
Como ambos adentramos no último estágio da vida, isto também parece nos aproximar bastante.
Por um tempo, contudo, estávamos um pouco afastados.
Eu muito envolvido com atribuições típicas dos humanos, ela entregue a uma preguiça e indolência que a vinha fazendo passar boa parte dos últimos dias, enrolada em sua caminha, quase sempre dormindo ou cochilando.
Ou então anda pela minha volta, me acompanhando por toda a parte dentro da casa, e sempre que se propicia deita aos meus pés sobre os chinelos ou acomoda-se na beira da cama.
Quanto a nos aproximarmos para escrever parecíamos ter decidido a "dar um tempo".
Da parte dela um pouco constrangida em ter que recorrer a um "humano" para desempenhar a função de digitador.
Da minha parte duplamente constrangido por ser mero digitador de um lado e não produzir meus próprios textos por outro.
É isto que me tornara? "Ghost writer" de um gato? Ou nem isto pois os textos são quase integralmente ditados por Sueto.
Ou seja, a autoria é efetivamente dela, não minha.
Neste ponto, no entanto, às vezes fico confuso.
Não interponho nada, absolutamente nada, que possa dizer que eu produzi?
Às vezes creio que sim.
Talvez fôsse mais correto dizer que produzimos a quatro mãos.
Ou, me expressando melhor, duas mãos e duas patas... ou devo dizer, quatro?

4 comentários:

  1. lindo texto, linda imagem.
    parabens mesmo,do coração.

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  2. César, falei para a Sueto a respeito do teu comentário mas ela anda meio absorta. Ultimamente passa o dia deitada numa almofada na cozinha e não parece muito interessada em sair dali para nada.
    Agradeço, então, em nome dela. É gratificante saber que o que escrevemos ( no caso a Sueto) tem o reconhecimento de pessoas sensíveis.

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  3. Achei muito interessante a história da sua gata!!! rs rs rs ... E com certeza você também deve ter sete vidas!!!

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  4. Eu sou um simples mortal, só tenho uma vida só.
    E talvez Sueto, por este processo de humanização, só tenha seis.

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