Queria entender melhor
o temperamento e o modo de agir da Sueto.
A muitos ela parece
meiga, uma gatinha doce, sensível às manifestações mais sublimes do mundo
felino e também humano do qual compartilha.
E é assim, tenho que
admitir, que ela se apresenta em muitos
momentos.
É a gatinha amorosa que
vem sentar em meu colo, mordiscar minha mão, atravessar a casa à minha procura até
me encontrar onde estou e ali ficar durante horas me fazendo companhia.
A muitos ela parece
também meio intelectual, versada em línguas e conhecedora das artes, das
ciências. É assim que ela, frequentemente, se apresenta mas, em parte, pode ser
apenas uma imagem que procura criar. De qualquer modo muitas vezes ficamos os
dois ouvindo os clássicos ou quantas vezes ela fica me ouvindo a recitar
poesia.
Se considerarmos que é
charmosa, atraente, seria, enfim, uma gata que qualquer humano gostaria de ter
ao seu lado.
Mas parece existir
também nela um lado menos dócil que vai transparecendo em seus comentários
críticos, em sua ironia.
Este lado, ao qual se
soma o de algumas mordidas mais fortes, um arranhão que me faz sangrar com suas
unhas afiadíssimas, não sei muito bem ao que atribuir.
Será insegurança ou manifestação de alguma frustração?
Será insegurança ou manifestação de alguma frustração?
Há quem me acuse
dizendo que é resultado de minha influência ou, indo mais longe, até insinuando
que a Sueto serve de instrumento para minhas próprias secretas intenções.
Mas credito isto ao
ciúme, à inveja e, sobretudo, à falta de imaginação destas pessoas. Prefiro ,
portanto, não dar atenção a estas insinuações.
Tenho procurado me manter afastado de qualquer interpretação que possa perturbar a paz e o entendimento que eu e Sueto alcançamos que já não é muito fácil entre humanos, mesmo entre um homem e uma mulher, que dirá entre um humano e uma felina.
Tenho procurado me manter afastado de qualquer interpretação que possa perturbar a paz e o entendimento que eu e Sueto alcançamos que já não é muito fácil entre humanos, mesmo entre um homem e uma mulher, que dirá entre um humano e uma felina.
Por isto me consolo de
não poder entender como queria a personalidade de Sueto. Contento-me com sua
presença ao meu lado .
Já começo até a não me incomodar muito que se deite no sofá da sala e roube alguma coisa da cozinha aqui e ali.
Já começo até a não me incomodar muito que se deite no sofá da sala e roube alguma coisa da cozinha aqui e ali.
Angustia-me, isto sim,
vir a perder o privilégio de poder, quando me sento em frente ao televisor ou a
ler , tê-la estendida no tapete à minha frente e poder ficar massageando ao
mesmo tempo meus pés e sua barriga macia e aveludada.
Quando me lembro que
garanto estes pequenos prazeres em troca de cuidados simples , entre eles o
fornecimento de pequenas porções de patê
de atum e eventuais doses de leite com rum, além de atenção e carinho, sinto uma espécie de felicidade.
Recosto-me, então, para trás no sofá e levanto o volume do som, como agora neste momento , a ouvir o concerto para piano, k.467, de Mozart.
Fecho os olhos e fico sentindo a leve brisa que entra pela janela acariciar-me o rosto.
Pena que Sueto saiu daqui. Estranho, ela gosta tanto de Mozart e deste concerto em especial.
Mas as felinas são assim, não queiras entendê-las, apenas compartilhes com elas aquilo em que nos completamos.
Recosto-me, então, para trás no sofá e levanto o volume do som, como agora neste momento , a ouvir o concerto para piano, k.467, de Mozart.
Fecho os olhos e fico sentindo a leve brisa que entra pela janela acariciar-me o rosto.
Pena que Sueto saiu daqui. Estranho, ela gosta tanto de Mozart e deste concerto em especial.
Mas as felinas são assim, não queiras entendê-las, apenas compartilhes com elas aquilo em que nos completamos.
Mas, em seguida, percebo
que Sueto reapareceu...
Deve ser porque começou
o movimento Andante, seu favorito. Meu favorito também...
Estou dizendo, combinamos em tudo....
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