Ela, porém, sempre gosta de fazer isto.
Na verdade, estou convencido, como supõe que vou chegar na cozinha ( a probabilidade é bem grande) antecipa-se para conferir se não vou lhe dar nada para comer.
E, de fato, não deixa de ter razão pois me encaminho para lá. e acabo obsequiando-a com um punhado de ração.
É , então, que me deparo com a cena triste de uma lagartixa estendida no chão, morta e já sendo devorada por formigas ( de onde saíram, como percebem tão prontamente um acontecimento aparentemente tão insignificante?)
Concluo rapidamente que o pobre bichinho foi sacrificado pelo "anjinho" que se roça nas minhas pernas emitindo um miadinho inocente.
Como podem os gatos serem tão espontaneamente assassinos, por prazer ou curiosidade e, quase no mesmo momento, tão meigos e ingênuos?
Enquanto a Sueto segue beliscando sua ração que poderia servir para aplacar seu instinto pedrador, mergulho numa reflexão.
Mas não chego a concluir nada.
E talvez porque vou dormir com esta inquietação, acabo acordando no meio de algo que poderia ser um pesadelo pois lembro que, em algum momento, me transformara numa lagartixa.
Aproveito, já de pé, para ir a cozinha e beber um copo d'água. Noto, então, que Sueto não está deitada em sua almofada como de costume.
Chamo-a e nada...
Como estou com sono deixo-a de lado e volto a dormir.
Apenas no outro dia, tomando meu café da manhã, tenho minha atenção solicitada pela empregada que, varrendo a casa, encontra alguma coisa que vem me mostrar.
Pois confesso que é com um pressentimento pouco confortável que a vejo trazer, na pá de lixo que empunha, uma outra lagartixa atacada da mesma forma que a primeira. Até mais dilacerada como que vítima de um ataque de maior ferocidade.
Num movimento meio instintivo olho ao redor para encontrar Sueto que, de volta à sua almofada, espicha-se adormecida...