Entrevista com Viviane José, filósofa e psicanalista.
Apesar de nós, mulheres, termos conquistado tanta coisa, li em um texto seu que você acha que estamos perdidas e arrogantes. Como assim?
A mulher não está querendo tudo apenas para se desenvolver, curtir.
Ela quer poder tudo.
Acho que ainda tem um ranço da falta de poder do século passado. Então, a mulher quer ser a melhor mãe, a mais gostosa, a melhor profissional. Se isso fosse feito como meta de desenvolvimento, tudo bem.
Mas acho que as mulheres fazem isso por necessidade de controle. E falo isso porque vi isso em mim. Eu era essa mulher que achava que podia tudo. Não assumia a minha fragilidade. Se hoje consigo manter um casamento de dez anos, é porque dependo do meu marido, apesar de não depender financeiramente dele, entendeu? Dependo que ele esteja em casa, que ele me ame, que me apoie. Assim como dependo da minha mãe, dos meus amigos, do meu pai.
O que me salvou foi descobrir o seguinte: posso ir aonde eu quiser, mas tenho a minha fragilidade. Tive que me afastar de amigas para viver bem no meu casamento. Se uma amiga via um conflito entre mim e o meu marido já falava: “Mas você não precisa disso! Esse cara, quem ele pensa que é?” [risos]. Como se eu tivesse uma grandeza em que a pessoa ficasse aos meus pés. Tem muito ranço também desse papo de “tenho que ser livre”, “porque faço o que eu quero”.
Quem faz o que quer não se casa. E ninguém casa para ser feliz. Você casa para fazer parceria, para ter companhia. Para isso, vai ter que abrir mão do seu desejo, ser paciente.
Se quer ser feliz, mais fácil ir para Londres, dar para quem você quiser.
O casamento é uma doação.
E as mulheres estão muito arrogantes.
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